domingo, 17 de maio de 2020

Sobre galáxias e amigos


A Lua gira em torno da Terra.
A Terra gira em torno do Sol.
O Sol gira em torno do centro da Via Láctea, nossa galáxia.
A Via Láctea pertence ao Grupo Local que pertence ao Superaglomerado (supercluster) de Virgem que pertence ao (à?) Laniakea.

A maioria das galáxias possui um buraco negro supermassivo no centro, então poderíamos dizer que o Sol gira em torno desse buraco negro da Via Láctea. Mas estaríamos bem errados, porque esse buraco negro tem uma massa 4.3 milhões de vezes maior que a do Sol. Enquanto que nossa galáxia toda tem 890 bilhões de massas solares, ou seja, o buraco negro não é tão importante para explicar a dinâmica gravitacional do sistema.

Só um pouco mais de paciência, que já entro no paralelo sociológico.

A rigor, em todos os níveis citados, o corpo que gira, o faz em torno do centro de massa, e não em torno de outro corpo, por mais massivo que seja. Mas claro, quanto mais a totalidade de massa do sistema estiver concentrada num só corpo, mais coincidente estarão o centro de massa e o corpo massivo. Então podemos continuar falando que a Lua gira em torno da Terra e que esta gira em torno do Sol. E se tirar esse objeto maior, o sistema provavelmente entra em colapso.



Comigo ainda?

Agora, ao invés de olhar para as estrelas, vamos olhar para nossos círculos sociais.
Vejo um paralelo bem claro entre sistemas de massa (ou outra forma de força de campo, como eletromagnetismo) e sistemas de afeto.

Num grupo de amigos, tem gente mais próxima e gente que faz parte, mas por quem você não simpatiza muito. Mas, provavelmente tem alguém que valoriza aquela pessoa, e não é difícil de imaginar que também exista alguém que não te tolera. O que importa é que coletivamente, todos estão girando em torno de um mesmo centro de atração afetiva.

Às vezes esse centro está personificado, tem aquela pessoa que conecta, um hub que ou naturalmente é mais carismático (energia potencial), ou se esforça mais (trabalho) para manter o grupo coeso.
Em outros grupos não. Foi formado por alguma circunstância incidental, compartilham uma identidade que pode ser temporária ou perene, e não tem uma figura que mantém a união do grupo, mas existe uma harmonia permite que todos continuem girando sem colisões.

A partir desse arcabouço, podemos extrair algumas classificações dos amigos:

* Sol: Elemento essencial do grupo. Se ele sair ou mudar de comportamento, o grupo provavelmente se desmancha.
* Planeta: pertence ao mesmo grupo que você, mas vocês não interagem muito fora do contexto do grupo.
* Cometa: aparece de vez em quando, participa temporariamente das atividades do grupo e some de volta.
* Satélite: parece que depende de você pra tudo.
* Sistema Binário. Um casal, ou "BFFs" que um gira em torno do outro.

E sempre um grupo pode estar dentro de outro que está dentro de outro. Mas diferentemente dos astros, podemos simultaneamente ter vários papeis em grupos diferentes: ser planeta aqui, cometa lá, satélite para alguém, sol numa circunstância especial, e por aí vai.

É o que tenho pra hoje. Não tem nenhuma crítica ou pensamento motivacional, ou recomendação. Só um ferramental para melhor observar seu papel e das pessoas a sua volta e ter uma maior consciência de como você afeta os outros.

Fim do texto.













segunda-feira, 18 de março de 2019

Protagonismo


Quero falar sobre protagonismo. Enquanto possível solução para um problema meio pandêmico na sociedade contemporânea, marcada pelas interações humanas predominantemente digitais.

Pra falar a verdade, não sei o que é protagonismo. Quer dizer, sei que esse termo é usado em algum contexto mas não pesquisei ainda. Me deparei com uma situação em que ela pareceu apropriada, então me apropriei. Vamos ver se bate depois.

Imagina um grupo de whatsapp com pessoas misturadas. Qualquer que tenha sido o motivo para sua criação, ele não perdura; porém o grupo está lá, e as pessoas continuam a usá-lo. Meio que se instaurou uma cultura que rege o conteúdo que se espera encontrar por lá.

Só que, como falei, tem gente de todo tipo. Uma middletown¹ virutal tupiniquim. E ao mesmo tempo em que as perspectivas são diversas, os papeis desempenhados dentro dessa comunidade também.

Temos os protagonistas, que são os que publicam ou compartilham material externo com mais frequência; os coadjuvantes, que apenas reagem ao que aparece na sua frente; e os figurantes, que só estão lá porque todo mundo também está. Poderíamos expandir a metáfora teatral, encontrando o análogo da plateia, do diretor, do dramaturgo... mas se continuar assim termina virando uma patáfora². Pra ideia que queria transmitir, esses três papeis bastam.

O problema surge quando há um desequilíbrio entre a distribuição de interesses e papeis. Ora, a comunidade é feita por pessoas, e tem o conteúdo que as pessoas que lá estão querem que tenha. Nada mais óbvio. Mas quem não faz gol, leva. Se seus interesses estão sub-representados na proporção de conteúdo, é sinal que está faltando protagonismo. Tem muito coadjuvante e figurante, que se incomoda com as publicações de interesse alheio, mas no máximo critica e se manifesta contrário. Isso, se tem algum efeito, é o contrário do esperado. O protagonista encontrou o drama que queria, e vai repetir a cena sempre que tiver o mesmo resultado.

O que eu sugiro é primeiramente, mudar seu papel. Tente ser protagonista, trazendo as informações que aprecia pra comunidade. Outros vão achar ruim, ou vão ignorar, mas você estará ativamente modificando a identidade do grupo simplesmente por postar. E, adicionalmente, não alimente os trolls. Não gostou? Desvia, e deixa passar reto. Basicamente isso.

Naturalmente, o mundo é bem mais complexo que isso. Essa modelagem social e estratégia só vão funcionar em situações bem limitadas, como (hipoteticamente) num grupo de whatsapp, conforme exemplo. Enfim, acho que vale o exercício: menos reclamação e mais iniciativa.

Aproveitando, quer mesmo debater um tema delicado com alguém? Seja cara a cara, ou pela internet, então seguem algumas dicas bem práticas https://ideas.ted.com/6-strategies-to-help-you-turn-heated-dinner-arguments-into-real-conversations/



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Já que estamos quebrando o hiato. Que se registre que tenho inúmeros posts inacabados, e algumas ideias ainda a serem postas em palavras. Não prometo nada, mas eventualmente, uma cornucópia de ideias mirabolantes pode surgir por estas terras.
A ideia corrente na minha cabeça é da "univocidade da perfeição e a convergência das idealizações".

domingo, 4 de dezembro de 2016

O conceito de Deus é irresistível


(Escrevendo ao som da trilha sonora de Star Wars: The Force Awakens)

** Se alguém se sentir ofendido por este texto... Deixe de ser fanático!! Não estou fazendo apologia positiva ou negativa a nenhuma religião específica **


Quando criei este blog (2009), queria um espaço pra fazer dump de ideias malucas da minha cabeça e um pouco pra cristalizar minha identidade. Essa era a ideia do Idioma Secreto, a língua do Tacio Medeiros, sim são anagramas. Então o blog seria meio que um dicionário bilíngue. Mas raramente posto coisas que são explicitamente aspectos da minha personalidade ou conjunto de crenças e valores. Este ensaio será uma dessas raras ocasiões.

Quero, por meio deste, segmentar um pequeno quadrado onde ponho o pé no terreno da religiosidade. Ao expressar desse modo, quero dizer que a fé é essencialmente subjetiva e qualquer comparação ou julgamento com outras fés[1] é inadequado. Todavia, é importante que se afirme a sua própria, seja confirmando aquela sugerida pelos pais ou comunidade durante a infância e adolescência ou questionando[2] e encontrando por conta própria o conjunto de crenças com as quais compactua. Cada um no seu quadrado[3].

Então pronto, depois dessa introdução toda, sou agnóstico teísta. Num sei de nada com certeza, mas se for pra apostar digo que existe alguma criatura divina aí. E se não tiver, um dia vai ter.

Minha premissa é parecida com o argumento ontológico. O argumento ontológico diz assim
"A: Deus é perfeito / B: Perfeição é ter todas as qualidades / C: existir é uma qualidade. Conclusão: Deus existe".
Eu penso assim: O conceito de Deus[4] é irresistível. Se Deus criou o Homem, o Homem criou Deus nesse mesmo instante.
O universo pode até ser esse vazio sem nexo ou propósito do qual os niilistas tanto se lastimam; mas em menor ou maior grau, qualquer ato criador é divino[5].

E o que é criar? É olhar para uma tela em branco[6] e enxergar uma noite estrelada; ser praticamente surdo e compor uma sinfonia; é, após contemplar a lua por séculos, enfim construir um foguete ir até lé e trazer um teco de volta. Ou nada tão glorioso, simplesmente existir, e ter a consciência de que se está vivo, e viver realmente acreditando que há um significado para essa vida. Isso já é criar!

Sabe por que o nome da primeira etapa da inicialização de um computador é chamada de boot? Vem de bootstrap,[7] que por sua vez remete a um conto de fadas em que o personagem sobe até as nuvens se erguendo puxando os cadarços da bota enquanto a estava calçando (ou alguma variação disso). Absurdismo lindo. Então, um computador desligado não tem nada, mas quando os elétrons começam a passar por aqueles labirintos de trilhas condutoras, a mágica acontece e algo surge. Bootstrap, FIAT LUX! [8]

Se não há um Deus metafísico pairando além da nossa compreensão por toda a eternidade (ou vários deuses, milhares), ele existe em nós mesmos, em cada instante que nos convencemos que a realidade subjetiva é maior que a objetiva.

Esse é o poder, a força do cadarço da bota, a magia profunda. Aí que reside o divino. Essa é a Criação.

Pode ser que estejamos dentro de uma Matrix
Pode ser que existam seres inteligente de dimensões atômicas tornando a vida possível[9]
Pode ser que um monstro de espaguete gigante indetectável tenha criado tudo
Pode ser que viajantes do tempo tenham voltado para garantir sua própria existência num loop anti-causal estável e sem ponto de origem
Pode ser tanta coisa diferente e pode não ser nada.
Mas de um jeito ou de outro (ou de outro ou de outro), sempre há algo que podemos chamar de Deus. Porque, mais uma vez, a ideia é irresistível

... Até que se prove o contrário.
Mas é tão mais conveniente e agradável acreditar no mistério do universo do que numa cadeia de coincidências indiferentes.

Ainda estou longe de saber do que estou falando realmente. Mas falo mesmo assim, pior das hipóteses terei registro de como eu pensava em dada etapa da vida. Daqui uns anos vou reler isso e morrer de vergonha pseudo-alheia... E tudo bem.


Referências.
Recomendo dá uma olhada em especial no 5 e no 8.

[1] Fezes? Não encontrei uma boa resposta sobre se existe plural de fé em português.
[2] Só lembro de um cara que meus primos e eu conhecemos num reveillon em Pipa que decidiu ser católico, muito a contragosto dos pais, ambos satanistas.
[3] Se você lembrou de uma música chiclete é problema seu.
[4] uso Deus com D maiúsculo não em respeito a alguma religião monoteísta, mais como elemento de ênfase. Faço o mesmo para Homem. Não é um indivíduo humano adulto do sexo masculino, é o conceito de Homem que engloba tudo o que o define como tal.
[5] The Holy Moment https://vimeo.com/56075178
[6] Think different https://www.youtube.com/watch?v=nmwXdGm89Tk (tem uma versão em texto que é mais longa, mas o video é bonitinho)

quarta-feira, 23 de março de 2016

Assimetria Afetiva

"Dos moi pou sto kai kino tayn gayn" - Arquimedes
- Give the place to stand, and I shall move the Earth

Tentarei ser o mais focado possível aqui, tem uma série de princípios por trás desta teoria e implicações diversas, mas vou tentar apresentar só o miolo da coisa mesmo.

Este ensaio entra na linha de pensamento de que a busca pela igualdade é uma simplificação útil por um tempo, mas com as ferramentas adequadas, podemos descobrir formas melhores de organizar a sociedade, tornando a igualdade obsoleta.

Nossa cultura, e mesmo nosso vocabulário, são orientados para classificar as relações afetivas em patamares discretos e sempre de forma recíproca. "É namoro ou amizade?", "Solteiro, casado ou tico-tico?", quando adiciona alguém como amigo no facebook, o outro precisa aceitar. Pensar assim é extremamente restritivo e em muitos casos cria frustrações de expectativa. Em geral, relações assimétricas são vistas como doentias, ou abusivas.

O que entendo por afeto? É o valor subjetivo que se dá à vida de outra pessoa. Assimetria afetiva significa simplesmente que o valor que o indivíduo A atribui a B é diferente do que B atribui a A. E isso é natural, e é bom, se enxergado no enquadramento certo.

O princípio da alavanca, na física, diz que, com o arranjo mecânico adequado, é possível erguer objetos muito mais pesados do que a força empregada.

Imagina uma gangorra, com a diferença que o ponto de apoio não está no centro da tábua. A pessoa no braço curto da tábua precisa ser bem mais pesada do que a do braço longo, para que haja equilíbrio.

(retirado da Wikipedia)

Nessa imagem, a gente tem um peso de 100 kg de um lado com braço de 1 unidade e um peso de 5 kg com braço de 20 unidades. 100 * 1 = 5 * 20. Verificada a igualdade, estabelece-se o equilíbrio.

Assim como na mecânica clássica, postulo que as relações afetivas também podem se beneficiar do princípio da alavanca.

Pra facilitar, vamos chamar essas pessoas de A e B (os famosos Alice e Bob).

O afeto que A tem por B é o peso de B; o afeto que B tem por A é o peso de A (pra simplificar, vamos desconsiderar o efeito da autoestima). Para qualquer configuração de peso relativo entre os dois, é possível encontrar um ponto de equilíbrio!

O desafio é conceber um arcabouço social que suporte essa assimetria, ou seja, construir a tábua e ponto de apoio metafóricos. Tem alguns exemplos na nossa sociedade, que não são considerados exatamente relações afetivas, mas no final das contas são sim. Qualquer interação humana é inevitavelmente afetiva. Julgamos o valor de outrem automaticamente, desde o cara que lhe vende um cachorro-quente até sua mãe.

Entre professor e alunos. Professor não tem condição de dedicar a mesma consideração para todos os alunos, mas pro aluno é fácil ter o professor como inspiração, como exemplo a ser seguido. Mesma coisa entre um padre e sua paróquia, um ídolo e seus fãs. Nesses casos, a assimetria afetiva surge naturalmente por causa da assimetria numérica de indivíduos em cada papel.

Entre um fornecedor e o cliente. Fornecedor quer preservar seu contrato, ou realizar a venda, por isso irá tratar o cliente como rei. Já o cliente, qualquer pisada na bola do fornecedor, ele irá trocá-lo por outro sem pestanejar. É assimétrico, e funciona.

E por que não, entre dois conhecidos quaisquer? A mensagem que eu quero passar se resume a isto: não é necessário um rótulo de "amigo" ou "colega" ou o que quer que seja, basta as duas pessoas se comunicarem, e de comum acordo, descobrirem seu ponto de equilíbrio afetivo.

Descoberto o ponto, pronto é aquele lá. Reciprocidade não implica em igualdade de esforço social. Claro, as coisas são dinâmicas, precisa conversar sempre pra atualizar o ponto, mas é isso.

Só mais um recadinho. Pegando o gancho aí da comunicação, e lembrando do poder amplificador da alavanca.

Se tivesse um jeito fácil de saber, ou de medir, o afeto que as pessoas em sua volta tem por você, e que um simples "oi" ou um mero sorriso pode impactar no resto do dia de alguém que tem uma estima muito alta por você, este mundo seria um lugar bem melhor.

Não estou falando apenas de paixões platônicas. Aquele morador de rua que vê milhares de pessoas passarem por ele todo dia, sem, no entanto, ter sua presença reconhecida por ninguém se beneficiaria imensamente de um simples aceno de mão.

http://9gag.com/gag/anNDOWo

https://www.quora.com/Can-you-tell-me-a-story-that-makes-me-cry/answer/Lisa-Kirk-1?srid=zCCU

 

sábado, 27 de junho de 2015

Arco-íris tem mais de 7 cores.


Ressalva: não há nenhuma intenção ou comentário político neste texto.

2 anos atrás eu escrevi um negócio sobre essa coisa de sexualidade e identidade de gênero. Aqui http://idiomasecreto.blogspot.com.br/2013/02/sexualidade-e-recursao.html

Depois disso, ampliei um pouco mais a teoria para dar conta de outras coisas que ainda não estavam sendo contempladas.

Então estou aproveitando o momento (nos dois sentidos: kg.m/s e s) para publicar esta revisão.

A teoria original basicamente diz que o arco-íris não tem só 7 cores, tem infinitas. É um gradiente contínuo que nossos olhos, mente e linguagem quebram em 7 faixas de cores distintivas.

Mas cadê o branco ou preto ou qualquer tom de cinza? E se eu for daltônico e não conseguir distinguir tantas cores assim ou tiver uma super visão e ser capaz de identificar pelo nome trezentas mil cores? E se estiver de noite, num existe arco-íris de noite?

Percebe onde quero chegar?
Não, acho que ainda não né?

Calma...

Sabe RGB? O esquema de cores. Tem 3 dimensões, cada uma assume um valor entre 0 e 255, mistura as três e tem qualquer cor imaginável. Tudo no máximo dá branco, tudo 0 dá preto.

O RGB tem várias vantagens, mas dependendo da finalidade, existem outros modelos de cores. Para esta teoria, a mais legal é a HSV.

Hue (matiz): o tom de cor

Saturação: é a intensidade da cor

Valor: a a claridade.

Se você não for artista gráfico, pelo menos já deve ter mexido no ajuste de cores da TV e deve ter uma noção do que acontece quando abaixa a saturação ou quando aumenta o brilho. Se não, dá uma lida na wikipedia e volta aqui (https://en.wikipedia.org/wiki/HSL_and_HSV).

Veja, o Hue é a identidade de gênero propriamente. Existem infinitas possibilidades, conforme a teoria original. O infra-vermelho seria zoofilia e além*, o ultra-violeta seria, sei lá, sexo com robôs**.

A Saturação é a diversidade de coisas pela qual o indivíduo tem atração. Pessoa que tem nada de saturação, enxerga tudo preto e branco, é um pansexual. É aquele cara que o que aparecer ele traça.

O Valor é a libido. Tem gente que tem mais, tem gente que tem menos. Do assexual total ao ninfomaníaco.

Bom, essa é a teoria. Vou deixar as comparações e implicações e rotulações por conta de cada leitor.



quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Teoria da Possessão Alcoólica

Teoria da Possessão Alcoólica

ou teoria do pirata generalizada

 

Êee carnaval. Álcool, "música" e libertinagem. O que seria desse país sem o carnaval? O país do futebol e das favelas só. Mas eu já comecei divagando.

 

Tentar de novo. Dizia eu que o carnaval[1] é a festa onde as pessoas realizam suas fantasias, abrem suas asas, soltam suas feras [2]. Se dão liberdades reprimidas o ano inteiro[3].

 

Uma fantasia comum em carnaval é a do pirata. Tem um amigo meu que fala que não bebe quase nada, mas o pouco que ele beber de rum o transforma num pirata e esse pirata bebe pra caramba.

 

Tendo em vista que destilados em geral em inglês são chamados de spirits, tive a ideia de generalizar essa teoria do pirata.

 

Em poucas palavras, a teoria é que quando você bebe, a alma de alguém que morreu faz tempo entra no seu corpo e ele tem saudade do tempo de vivo e sabe que a possessão só dura até o álcool ser metabolizado, então ele quer aproveitar o máximo possível o tempo que tem de corpo. Se misturar bebidas, aí vários espíritos (inclusive o seu próprio) vão disputar o controle do corpo.

 

Agora explicando em detalhes.

 

Lembra do Rei Leão? "É o cíiiiiirculo sem fiiiiim!"[4]

O leão come o antílope, o antílope come a grama. Quando o leão morre, ele é absorvido pela grama, e o antílope come a grama.

 

Pois bem, a gente bebe a cerveja, vinho, vodca, cachaça, uísque, rum, conhaque, saquê, e qualquer outro vegetal que conseguirmos fermentar ou destilar.

 

De alguma forma, nossos antepassados foram absorvidos pelas plantas e o álcool que produzimos e consumimos contém almas humanas[5]! É como se as plantas fossem tipo a armadilha dos caça-fantasmas. E ao converter em bebida, elas são liberadas. Claro, vem um monte de outras coisas junto, mas só almas humanas são compatíveis com corpos humanos, o resto não consegue entrar ou algo assim. Tem um monte de furo na teoria pra tapar, mas não importa.

 

Então se você bebe rum produzido nos canaviais caribenhos, você é possuído por um pirata.

Se encher a cara de uísque escocês, é possuído por um bigodudo de saia quadriculada tocando gaita de foles.

Se virar várias tequilas, baixa um legítimo mariachi mexicano com sombreiro e tudo.

Se tomar volumes copiosos de cerveja alemã, vem um bavariano com bermuda caqui e suspensórios atazanar seu juízo.

Se der PT de vodca, carrega um russo porra-louca no espinhaço que no dia seguinte você nem lembra onde tá.

E por aí vai. (Não sei por que os estereótipos nacionais são sempre masculinos. Ah não, alemã tem a versão feminina também.)

 

Claro, o quanto esses espíritos vão conseguir dominar seu corpo vai depender do poder que sua própria alma tem sobre seu veículo de carne e a quantidade de álcool ingerida.

 

Aí o cara vai lá, toma todas, sai do bar entrançando as pernas, pega o carro e faz um strike. A culpa não é dele se no século 17 não tinha carros e o espírito que estava no comando só tinha andado de cavalo.

 

Então da próxima vez que for invocar o pirata, pense nisso. Quem quer aproveitar a festa é você ou um defunto de trocentos anos atrás? Como bem nos lembra o defunto-a-não-tanto-tempo Robin Williams[6], Carpe Diem é o que desejam os que já viraram comida de minhoca. Para eles a esperança já morreu. (Sim, tenho consciência que estou interpretando a cena ao contrário).

 

Aliás, esperança é o tema de próximo post. Que sabe-se-lá-quando vou escrever.

 

 

[1] E o salário ó! Ah não, tou misturando os profs. https://www.youtube.com/watch?v=eTkm_WNfAFc

[2] Disco is dead. Só consigo achar a mínima graça nessa música quando estou de paletó bêbado em alguma cerimônia de casamento. Hmm, à luz desta teoria agora faz sentido.  https://www.youtube.com/watch?v=NDPhClCghmY

[3] Nhá, Wikipedia faz o episódio parecer sem graça. http://en.wikipedia.org/wiki/A_Taste_of_Freedom

[4] Ainda acho que Scar deu azar de reinar durante uma seca sem precedentes, teve culpa não.  http://www.imdb.com/title/tt0110357/quotes?item=qt0371434

[5] Ainda tenho que ver esse filme. https://www.youtube.com/watch?v=9IKVj4l5GU4

[6] E esse tenho que rever, acho que não entendi muita coisa na 1a vez que vi. https://www.youtube.com/watch?v=veYR3ZC9wMQ

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Esporte infantil - História da Floresta

Alguns dias atrás sonhei com um jogo infantil de campo aberto, meio parecido com barra-bandeira, polícia e ladrão, só que mais elaborado.
No sonho, cada jogador tinha uma fantasia de animal. E era uma bagunça.
Aí com os fragmentos que lembrava, comecei a elaborar melhor o que seria esse jogo. Seguem as regras, até onde cheguei.


Jogo em equipe (cooperação obrigatória entre membros)
Sem bola (não há ponto focal da ação do jogo)
Em espaço retangular (preferencialmente gramado, pode ter obstáculos como árvores)
Misto (jogam obrigatoriamente meninos e meninas de idades diferentes na mesma equipe)

Cada equipe é composta por 5 jogadores animais
- Um urso (menino mais velho)
- Uma raposa (menina mais velha)
- Um coelho (menino ou menina de idade intermediária)
- 2 ratos (um menino e uma menina mais novos)

Cada jogador, antes do início da partida, guarda um pequeno papel enrolado com uma frase escrita.
Esse papel se chama capítulo.

Cada animal, além de se mover livremente pelo campo, pode também roubar o capítulo de um animal do time adversário e entregá-lo a um animal do seu time.
Para realizar a ação, basta encostar na vítima e ela fica congelada até que alguém lhe salve ou a rodada acabe.

O objetivo de cada rodada é, através de uma sequência de ações válidas, tomar o capítulo de um adversário e entregá-lo para o mesmo animal da sua equipe.
O jogo é um melhor de 5 rodadas. Ou seja, a primeira equipe a fazer 3 pontos vence.

Ao final de cada rodada, o capítulo é lido, e revela uma parte da história da floresta, o que altera algum aspecto da dinâmica da próxima rodada.

O urso pode tomar o capítulo da raposa;
A raposa toma do coelho;
O coelho toma dos ratos (qualquer um);
Os ratos tomam do urso.

O passe de capítulo dentro do próprio time acontece no sentido contrário.
Contudo, um animal não pode guardar mais do que 2 capítulos ao mesmo tempo.
Os ratos só podem entregar capítulo pro coelho;
O coelho só entrega pra raposa;
A raposa só entrega pro urso.

Quando um animal recebe o capítulo adversário do seu equivalente a rodada acaba.
Ou seja, um capítulo precisa trocar de posse 4 vezes, no mínimo, para encerrar uma rodada.

Efeitos dos capítulos:
- [animal] está doente, deve ficar parado.
- É noite, todo mundo vendado.
- ...

Posições iniciais na quadra
...

Faltas e penalidades
...