domingo, 10 de julho de 2011

No final tudo dá certo


Pessoal gosta de falar que no final tudo sempre dá certo.
E se não está certo é porque ainda não acabou.

Sempre achei que fosse só uma frase para encorajar a não desistir, votos de otimismo, gentileza civil.

Mas dia desses, ouvindo a conversa de dois amigos sobre o embate iminente do último semestre de faculdade para se formar, percebi que é pura lógica. É muito simples...

No contexto universitário, o adágio exposto no início deste texto pode ser interpretado como segue.
Dado que o aluno irá se formar cedo ou tarde (desconsiderando possibilidade de jubilamento ou desistência), até o pior dos alunos que nunca na sua vida acadêmica passou em todas as disciplinas matriculadas terá no seu último semestre enfim completado seu currículo. Ou seja, terá de fato passado de 100% das matérias matriculadas[1].
Caso ele não passe em tudo, então não é o último semestre e ele se matriculará novamente naquela(s) que ele não passou (de novo). Até que um dia ele passa de tudo e esse sim será o último semestre. E esse sim terá tido 100% de aproveitamento.
Olha só, por essa perspectiva, todo aluno que se forma, o faz como um aluno exemplar que passa de tudo.

É igual um sistema de controle[2] retroalimentado.
1- Mede a variável de saída do sistema
2- Compara com o valor desejado
3- Se não chegou ainda usa o acionador pra empurrar mais um pouco
4- Volta pra etapa 1

E cada vez fica mais perto do valor desejado, até que chega lá[3].

Então, mas a hipótese colocada ali entre parênteses é muito forte né? Sem jubilamento e sem desistência. Ou seja, ele pode tentar infinitas vezes até dar certo.

Saindo do contexto universitário, pensando nos problemas gerais da vida. Será que dá pra aplicar essa lógica?
Acho que as pessoas terminam apelando. Tem aquele outro ditado popular, "Se não pode vencê-los, junte-se a eles."
Se uma coisa não está dando certo, muda o objetivo pra algo mais ao alcance e vai lá e consegue. De alguma forma justifica pra si mesmo[4] que o tempo perdido com o objetivo anterior era só uma fase de aprendizado, de preparação.

E aí, desse jeito, escolhendo com conveniência o objetivo e o momento considerado final, fica fácil dizer que no final tudo dá certo.
Para ser franco então deveríamos dizer assim:

No final, tudo dá certo. Se não deu ainda, mude[5] seu conceito de certo e de final até que consiga se convencer que algo foi concluído e com sucesso.


Referências Cruzadas Potencialmente Obscuras e Aleatórias
[1] Huge success (Portal - Still Alive)
[2] Purposeful behavior (CONTROL - Principia Cybernetica)
[3] Ele disse que chegava lá (Chico Buarque - meu guri)
[4] Racionalização da frustração (Dissonância cognitiva)
[5] GPS - "Recalculando rota"

sábado, 2 de julho de 2011

Sonho pra deixar Inception no chinelo


Já tive sonhos estranhos. Mas o que tive essa noite supera todos. Nem sei como descrever direito.

Sonhei que eu acordava à noite com um barulho. Eu levantava pra ver e vi alguém mexendo no armário no outro quarto. Só que essa pessoa era eu mesmo! Por algum motivo eu sabia que esse eu do outro quarto era um sonho, mas se era um sonho então eu estava dormindo.

Quer dizer, eu estava ao mesmo tempo em 3 cantos. Dormindo (1), Sonhando que estava mexendo no armário no outro quarto (2), Desperto observando minha projeção onírica do outro quarto (3). Então eu (o 3 que era quem estava consciente da situação) tentei acordar o eu 1 pra fazer o eu 2 sumir. Quando eu consegui, o 2 e o 3 sumiram e o eu consciente passou a ser o 1. Que acordou muito confuso com a recente sensação de bi/tri corporeidade.

Mas tudo isso foi só um sonho.

Acho que ficar lendo sobre paradoxo ontológico e enredos com laços temporais antes de dormir não foi uma ideia muito boa...

sábado, 11 de junho de 2011

Dia dos namorados

Um soneto em homenagem aos casais de namorados.

As flores murcham e morrem no vaso
O chocolate engorda e dá espinha
Presente mesmo digno de rainha
Ou namorada que seja no caso

Não pode ser entregue em sacolinha
Também não pode ter preço e nem prazo
Sem falar que não se tolera atraso.
Já sabe o que eu vou te dar? Adivinha!

Quando é sincero e verdadeiro o amor
Melhor que carinho, não há presente
Ficar um ao do outro inteiro dispor

Um filme com pipoca, de repente
Sei lá, se aconchegar no cobertor
Fingir que vai durar eternamente.

domingo, 29 de maio de 2011

Loop infinito na Wikipedia


Inspirado pelo tooltip do xkcd 903.
Diz lá que qualquer artigo que você pegar na wikipedia (english), se clicar sucessivamente no 1o link que não está dentro de parênteses nem em itálico, você termina invariavelmente chegando em Philosophy.
Testei com alguns artigos aleatórios, e de fato, isso se verificou.
Aí eu me perguntei, "e se continuar com a regra depois de Philosophy?"
Descobri que tem um loop infinito entre Philosophy, Mathematics e Science.
Veja.

Philosophy - Existence - Sense - Physiological - Science - Knowledge - Fact - Information - Sequence - Mathematics - Quantity - Property - Modern philosophy

Daqui a pouco alguém deve surgir com alguma teoria à la código da Bíblia de que todas as previsões do futuro estão contidas na wikipedia é só usar a regra certa de navegação pelos links.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Lembre-se que morrerás

Como costumava dizer poor Tuco, o feio, de the Good the Bad and the Ugly, o mundo é dividido em 2 tipos de pessoas... [a continuação varia]

Mas essa decurrolagem é bem mais antiga, tem até lista de frases que começam assim.
Tem uma que é atribuída a Aristóteles (mas eu duvido muito*) que diz o seguinte:
"As pessoas dividem-se entre aquelas que poupam como se vivessem para sempre e aquelas que gastam como se fossem morrer amanhã."

Perfeito! É simplista mas resume bem. Penso assim faz tempo.
O que eu acho que acontece é o seguinte: em algum momento entre a infância e a vida adulta, a pessoa se dá conta, percebe com plena consciência, que irá morrer um dia. E a essa epifania compulsória seguem-se duas respostas possíveis:
- Vou morrer, não sei quando. Provavelmente não hoje, mas talvez já amanhã. Então vou aproveitar o dia de hoje o máximo possível. Vou buscar ter o máximo de prazer nessa vida efêmera porque sei que o prazer satisfaz, por um instante pelo menos, esse meu corpo decadente;
- Vou morrer, e com minha morte, tudo o que eu fui será esquecido e apagado e substituído. Então de que adianta viver? Existem, contudo, coisas que eu posso realizar em vida que serão lembradas por sua beleza ou grandiosidade ou de cujas consequências afetarão a vida dos que ficarem depois da minha partida. Vou procurar realizar o máximo de coisas para que minha obra seja prova da minha passagem pela vida.

Pra quem não entendeu, segue em bom latin.

Memento Mori !
- Carpe Diem
- Non Omnis Moriar

(tá bom... eu tento traduzir)
Lembre-se que irá morrer
- Aproveite o dia
- Não morrerei completamente

Agora, essas duas respostas só são antagônicas se levadas ao extremo. Quem só quer ter prazer não realiza nada e quem só quer realizar não tem prazer. Mas se você pensar bem, há prazer na realização e há realização no prazer.

Bottom line, "aproveitar a vida" pode significar coisas diferentes para uns e para outros, não há um caminho certo. Qualquer que seja a sua filosofia de vida,
[...bzzzt ...] sentido da vida é [... rhurhuwhruhruwhr ...] para ser feliz [... shshsshshshshshs ... ]
Não, sério, eu juro que eu tinha pensado numa conclusão legal pro texto, desviei a atenção 1 segundo e esqueci o que ia escrever.


* A quote mais próxima que eu encontrei em inglês é esta

sábado, 23 de abril de 2011

Educação infantil

"Não vai lá que tem cobra!"

"Não faz isso que o moço briga com você. O moço é bravo!"

"Se não dormir, a cuca vai te pegar!"

"Se não for um bom menino o ano inteiro, Papai Noel não dá presente!"

...

 

Quando eu vejo os pais usando essas mentiras tentando educar o filho através da impressão de medos e associação desses medos com ações incorretas, duas coisas me vêm à cabeça.


A primeira é que os pais de hoje rejeitam a ideia de educar pela autoridade. Antigamente, se o moleque faz travessura ele apanhava mesmo, novamente ele aprende pelo medo, mas pelo menos é um medo real, o medo da pisa que o pai deu com o cinto. (Não que eu seja a favor disso, só estou observando a mudança de comportamento.)


A segunda é que me parece que um adulto nada mais é que uma criança que adquiriu um número suficiente de medos, se restringindo a agir e falar dentro do pequeno mundo que ele aprendeu que é seguro. Isso significa que essas pessoas terão uma vida longa e feliz, porém aquém do seu real potencial, pois existe uma boa possibilidade de que parte de seu talento tenha sido enterrado em um dos medos que o tornou adulto.


Ao mesmo tempo, quando vejo uma criança fazendo coisas aparentemente sem sentido (propósito) ou perigosas, impulsionada por pura curiosidade e agindo em legítima criatividade, em um eventual momento em que seus pais ou responsáveis não a estão observando, sinto uma profunda admiração.


Às vezes observo o mesmo no louco da rua, mendigo, morador de rua, que aborda os transeuntes aleatoriamente e aparentemente sem esbarrar em nenhum medo.


Mas afinal, o que é o medo?


Discussões relacionadas:

- Pedagogia / Psicologia infantil

- Medo / Virtudes e vícios teologais

- Possibilidades e propósitos

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Como se mede um ser humano?


Tá, podemos pegar uma fita métrica e medir vários atributos físicos. Podemos contar o tempo decorrido desde o momento que ele nasceu, é outra medida. Podemos confeccionar um teste pra ter medida da inteligência ou dos conhecimentos ou até da personalidade de cada pessoa. Tudo isso é válido, é largamente usado, e tem suas finalidades.

Mas não é disso que eu quero falar.

Querendo ou não, estamos sempre julgando a nós mesmos e as pessoas a nossa volta, nos qualificando como superiores ou inferiores. E os critérios dessas medidas subjetivas que fazemos são os mais diversos, segundo nossas crenças, valores, moral, objetivos de vida.

E tem uma medida em especial que me intriga porque existem duas formas de pensar igualmente válidas do ponto de vista racional, mas antagônicas e eu escolho e julgo veemente de uma das formas.

Quem é superior? Quem ajuda o outro pois demonstra ter o poder de fazer algo que aquele que pediu o favor aparentemente não é capaz, ou quem pede ajuda pois demonstra poder articular as pessoas e ampliar suas capacidades para além das suas limitações?

O primeiro pensa: "Eu consigo me virar sozinho, e ainda sobra energia para ajudar aos menos capacitados. Por isso sou superior".
O segundo pensa: "Eu consigo o que quero usando o mínimo de energia própria. Por isso sou superior".

O mais engraçado é pensar que eles precisam um do outro. Quando um pede um favor e o outro o faz, ambos se sentem realizados, tendo demonstrado sua grandeza.

Daqui podem se seguir diversas discussões. Incluindo guerra dos sexos, falso altruismo, ambições.