domingo, 4 de dezembro de 2016

O conceito de Deus é irresistível


(Escrevendo ao som da trilha sonora de Star Wars: The Force Awakens)

** Se alguém se sentir ofendido por este texto... Deixe de ser fanático!! Não estou fazendo apologia positiva ou negativa a nenhuma religião específica **


Quando criei este blog (2009), queria um espaço pra fazer dump de ideias malucas da minha cabeça e um pouco pra cristalizar minha identidade. Essa era a ideia do Idioma Secreto, a língua do Tacio Medeiros, sim são anagramas. Então o blog seria meio que um dicionário bilíngue. Mas raramente posto coisas que são explicitamente aspectos da minha personalidade ou conjunto de crenças e valores. Este ensaio será uma dessas raras ocasiões.

Quero, por meio deste, segmentar um pequeno quadrado onde ponho o pé no terreno da religiosidade. Ao expressar desse modo, quero dizer que a fé é essencialmente subjetiva e qualquer comparação ou julgamento com outras fés[1] é inadequado. Todavia, é importante que se afirme a sua própria, seja confirmando aquela sugerida pelos pais ou comunidade durante a infância e adolescência ou questionando[2] e encontrando por conta própria o conjunto de crenças com as quais compactua. Cada um no seu quadrado[3].

Então pronto, depois dessa introdução toda, sou agnóstico teísta. Num sei de nada com certeza, mas se for pra apostar digo que existe alguma criatura divina aí. E se não tiver, um dia vai ter.

Minha premissa é parecida com o argumento ontológico. O argumento ontológico diz assim
"A: Deus é perfeito / B: Perfeição é ter todas as qualidades / C: existir é uma qualidade. Conclusão: Deus existe".
Eu penso assim: O conceito de Deus[4] é irresistível. Se Deus criou o Homem, o Homem criou Deus nesse mesmo instante.
O universo pode até ser esse vazio sem nexo ou propósito do qual os niilistas tanto se lastimam; mas em menor ou maior grau, qualquer ato criador é divino[5].

E o que é criar? É olhar para uma tela em branco[6] e enxergar uma noite estrelada; ser praticamente surdo e compor uma sinfonia; é, após contemplar a lua por séculos, enfim construir um foguete ir até lé e trazer um teco de volta. Ou nada tão glorioso, simplesmente existir, e ter a consciência de que se está vivo, e viver realmente acreditando que há um significado para essa vida. Isso já é criar!

Sabe por que o nome da primeira etapa da inicialização de um computador é chamada de boot? Vem de bootstrap,[7] que por sua vez remete a um conto de fadas em que o personagem sobe até as nuvens se erguendo puxando os cadarços da bota enquanto a estava calçando (ou alguma variação disso). Absurdismo lindo. Então, um computador desligado não tem nada, mas quando os elétrons começam a passar por aqueles labirintos de trilhas condutoras, a mágica acontece e algo surge. Bootstrap, FIAT LUX! [8]

Se não há um Deus metafísico pairando além da nossa compreensão por toda a eternidade (ou vários deuses, milhares), ele existe em nós mesmos, em cada instante que nos convencemos que a realidade subjetiva é maior que a objetiva.

Esse é o poder, a força do cadarço da bota, a magia profunda. Aí que reside o divino. Essa é a Criação.

Pode ser que estejamos dentro de uma Matrix
Pode ser que existam seres inteligente de dimensões atômicas tornando a vida possível[9]
Pode ser que um monstro de espaguete gigante indetectável tenha criado tudo
Pode ser que viajantes do tempo tenham voltado para garantir sua própria existência num loop anti-causal estável e sem ponto de origem
Pode ser tanta coisa diferente e pode não ser nada.
Mas de um jeito ou de outro (ou de outro ou de outro), sempre há algo que podemos chamar de Deus. Porque, mais uma vez, a ideia é irresistível

... Até que se prove o contrário.
Mas é tão mais conveniente e agradável acreditar no mistério do universo do que numa cadeia de coincidências indiferentes.

Ainda estou longe de saber do que estou falando realmente. Mas falo mesmo assim, pior das hipóteses terei registro de como eu pensava em dada etapa da vida. Daqui uns anos vou reler isso e morrer de vergonha pseudo-alheia... E tudo bem.


Referências.
Recomendo dá uma olhada em especial no 5 e no 8.

[1] Fezes? Não encontrei uma boa resposta sobre se existe plural de fé em português.
[2] Só lembro de um cara que meus primos e eu conhecemos num reveillon em Pipa que decidiu ser católico, muito a contragosto dos pais, ambos satanistas.
[3] Se você lembrou de uma música chiclete é problema seu.
[4] uso Deus com D maiúsculo não em respeito a alguma religião monoteísta, mais como elemento de ênfase. Faço o mesmo para Homem. Não é um indivíduo humano adulto do sexo masculino, é o conceito de Homem que engloba tudo o que o define como tal.
[5] The Holy Moment https://vimeo.com/56075178
[6] Think different https://www.youtube.com/watch?v=nmwXdGm89Tk (tem uma versão em texto que é mais longa, mas o video é bonitinho)

quarta-feira, 23 de março de 2016

Assimetria Afetiva

"Dos moi pou sto kai kino tayn gayn" - Arquimedes
- Give the place to stand, and I shall move the Earth

Tentarei ser o mais focado possível aqui, tem uma série de princípios por trás desta teoria e implicações diversas, mas vou tentar apresentar só o miolo da coisa mesmo.

Este ensaio entra na linha de pensamento de que a busca pela igualdade é uma simplificação útil por um tempo, mas com as ferramentas adequadas, podemos descobrir formas melhores de organizar a sociedade, tornando a igualdade obsoleta.

Nossa cultura, e mesmo nosso vocabulário, são orientados para classificar as relações afetivas em patamares discretos e sempre de forma recíproca. "É namoro ou amizade?", "Solteiro, casado ou tico-tico?", quando adiciona alguém como amigo no facebook, o outro precisa aceitar. Pensar assim é extremamente restritivo e em muitos casos cria frustrações de expectativa. Em geral, relações assimétricas são vistas como doentias, ou abusivas.

O que entendo por afeto? É o valor subjetivo que se dá à vida de outra pessoa. Assimetria afetiva significa simplesmente que o valor que o indivíduo A atribui a B é diferente do que B atribui a A. E isso é natural, e é bom, se enxergado no enquadramento certo.

O princípio da alavanca, na física, diz que, com o arranjo mecânico adequado, é possível erguer objetos muito mais pesados do que a força empregada.

Imagina uma gangorra, com a diferença que o ponto de apoio não está no centro da tábua. A pessoa no braço curto da tábua precisa ser bem mais pesada do que a do braço longo, para que haja equilíbrio.

(retirado da Wikipedia)

Nessa imagem, a gente tem um peso de 100 kg de um lado com braço de 1 unidade e um peso de 5 kg com braço de 20 unidades. 100 * 1 = 5 * 20. Verificada a igualdade, estabelece-se o equilíbrio.

Assim como na mecânica clássica, postulo que as relações afetivas também podem se beneficiar do princípio da alavanca.

Pra facilitar, vamos chamar essas pessoas de A e B (os famosos Alice e Bob).

O afeto que A tem por B é o peso de B; o afeto que B tem por A é o peso de A (pra simplificar, vamos desconsiderar o efeito da autoestima). Para qualquer configuração de peso relativo entre os dois, é possível encontrar um ponto de equilíbrio!

O desafio é conceber um arcabouço social que suporte essa assimetria, ou seja, construir a tábua e ponto de apoio metafóricos. Tem alguns exemplos na nossa sociedade, que não são considerados exatamente relações afetivas, mas no final das contas são sim. Qualquer interação humana é inevitavelmente afetiva. Julgamos o valor de outrem automaticamente, desde o cara que lhe vende um cachorro-quente até sua mãe.

Entre professor e alunos. Professor não tem condição de dedicar a mesma consideração para todos os alunos, mas pro aluno é fácil ter o professor como inspiração, como exemplo a ser seguido. Mesma coisa entre um padre e sua paróquia, um ídolo e seus fãs. Nesses casos, a assimetria afetiva surge naturalmente por causa da assimetria numérica de indivíduos em cada papel.

Entre um fornecedor e o cliente. Fornecedor quer preservar seu contrato, ou realizar a venda, por isso irá tratar o cliente como rei. Já o cliente, qualquer pisada na bola do fornecedor, ele irá trocá-lo por outro sem pestanejar. É assimétrico, e funciona.

E por que não, entre dois conhecidos quaisquer? A mensagem que eu quero passar se resume a isto: não é necessário um rótulo de "amigo" ou "colega" ou o que quer que seja, basta as duas pessoas se comunicarem, e de comum acordo, descobrirem seu ponto de equilíbrio afetivo.

Descoberto o ponto, pronto é aquele lá. Reciprocidade não implica em igualdade de esforço social. Claro, as coisas são dinâmicas, precisa conversar sempre pra atualizar o ponto, mas é isso.

Só mais um recadinho. Pegando o gancho aí da comunicação, e lembrando do poder amplificador da alavanca.

Se tivesse um jeito fácil de saber, ou de medir, o afeto que as pessoas em sua volta tem por você, e que um simples "oi" ou um mero sorriso pode impactar no resto do dia de alguém que tem uma estima muito alta por você, este mundo seria um lugar bem melhor.

Não estou falando apenas de paixões platônicas. Aquele morador de rua que vê milhares de pessoas passarem por ele todo dia, sem, no entanto, ter sua presença reconhecida por ninguém se beneficiaria imensamente de um simples aceno de mão.

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