domingo, 27 de setembro de 2009

Ah, a sociedade moderna...

Já imaginou se alguém do tempo em que nossos bisavôs tinham nossa idade visse o mundo de hoje como está, o que ele iria pensar?

Certamente ele iria se assustar com muita coisa, se impressionar com várias outras, admirar nossa sociedade por alguns motivos e repudiar algumas mudanças de valores que aconteceram nesse último século.

Dentre as muitas mudanças na nossa sociedade, existe uma que ainda está acontecendo, se intensificando cada vez mais e de vez em quando é possível perceber um sinal claro de mais um passo que é dado neste sentido.

Estou falando da desvinculação ou desmembramento dos objetivos e motivos e significados de tudo o que nos cerca.

Por exemplo, para se deslocar de um lugar ao outro, pegamos algum meio de transporte que nos leva rapidamente praticamente sem esforço físico até onde queremos. Aí, precisamos ir à academia para caminhar numa esteira que fica parada ou numa bicicleta que não sai do lugar porque precisamos exercitar o corpo.



E o que são esses refrigerantes de 0 calorias? Até há pouco tempo alimentos alimentavam, mas parece que algumas bebidas não têm essa função. Existem só pelo sabor prazeroso e refrescante.

Está achando engraçado? Isso me lembra um outro exemplo. Quanta e quanta gente ao "conversar" em chats ou instant messengers escrevem seus exacerbados "kkk" ou "rsrsrs" ou alguma sequência impronunciável de caracteres aleatórios para demonstrar que está dando risadas, mas sua face permanece austera, não foi mexido um músculo da boca sequer como indício de sorriso.

Por falar em sorriso, a relação dele com a felicidade já está sumindo. Quer coisa mais ridícula do que o anúncio "xis" para que todo mundo force seu sorriso mais artificialmente fotogênico? Qualquer que seja seu humor presente, tem que botar o sorrisão na foto.

Mas o pior, e ainda vou receber várias críticas pelo conservadorismo da minha observação, é o sexo. Responda rápido: qual a função do ato sexual? Prazer, lógico, né? E com camisinha, pra proteger. Claro, porque reprodução não tem mais nada a ver com sexo. Se quer um filho faz um de proveta, com seleção genética do gameta masculino pra nascer sem defeitos.

E se quiser mesmo ter um filho, casamento não tem nada a ver. No máximo vai morar junto, mas casamento, não tem muita releção com constituir família. Só se os benefícios legais, financeiros, fiscais compensarem a mudança do estado civil no cartório.

Quer mais exemplos? Pois bem,
Xampú. Me encontre um xampú que tenha escrito que "lava o cabelo". Porque eu já vi xampú que promete fazer todo tipo de alquimia com o cabelo, mas nenhum tem escrito que lava o cabelo. "Mas isso fica subentendido". Eu realmente espero que seja isso mesmo, fique subentendido.

Shopping Center. O antro do artificialismo. Em época de natal então, com os pinheiros de plástico (!) e tudo o mais. Ano passado eu fui enganado por alguns segundos, achei realmente (na minha leda inocência) que as velas que decoravam o ambiente estavam acesas com fogo. Até me aproximar o suficiente para ver que era de plástico com uma luzinha de LED mudando a luminosidade de modo a parecer uma chama levemente bruxuleante.

O que é isso?? Velas deveriam ser usadas para iluminação quando falta energia. "Mas a vela tem um valor simbólico, não só no natal, no bolo de aniversário também, em ritos religiosos". Nem vou entrar nessa discussão do simbolismo, porque aí já depende de uns conceitos de semiótica e muda o teor do texto. Só alguém me explique por favor, por que substituir as velinhas comuns de bolo ou aquelas em formato de número por verdadeiros fogos de artifício incendiários? Não dá nem pro homenageado assoprar a dita cuja!

Me falaram que em muitos casamentos o bolo que fica exposto bonitão, vários andares, bonequinhos do casal no topo, é falso. Não é comestível. E quando o é, tem aquela crosta branca intragável e o interior nem é bom.

É... esse é o mundo de hoje. E só vai piorar. É o mundo da ilusão (parece mas não é); da hipocrisia (todo mundo é ator); do suprimento das necessidades hedônicas ou pragmáticas desvinculadas das necessidades físicas ou biológicas.

E agora?

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Lógica instável


Normalmente eu gosto de sentenças com lógica intrincada e de paradoxos. Mas numa questão de múltipla escolha de prova não é tão divertido.

Eram 4 alternativas:
a) bla bla bla
b) mimimi coisa e tal
c) somente a alternativa 'a' está correta
d) as alternativas 'a' e 'b' estão corretas.

Imagine que a sentença do item 'a' é verdadeira e a do 'b' é falsa. Bom, se é o caso, a 'd' certamente é falsa, mas o que acontece com o item 'c' ??

Por enquanto eu sei que somente a 'a' é verdadeira que é justamente o que é expresso no item 'c', logo ele é verdadeiro também. Mas aí não é mais somente a 'a' que é verdade, e isso nega o item 'c'. Ao fazer isso retorno à situação em que a 'a' é a única verdadeira.

Enfim, qual o valor lógico do item 'c'? A cada vez que eu tento descobrir ele muda de valor!! Cada vez que eu avalio seu estado ele alterna. Isso tem cara de mecânica quântica. Eu tou fora...

domingo, 20 de setembro de 2009

Sector Zero World Recovery - um DRP do mundo


uma idéia que tive conversando com um colega de trabalho uns meses atrás.

Imagine um mundo zerado. Sem nada artificial, mas com todos os recursos naturais disponíveis, do jeito que são encontrados na natureza. E um grupo de pessoas vai pra esse mundo. Não levam nada a não ser um espécie de guia prático de como restaurar o mundo moderno com as facilidades e utilidades que nós conhecemos.

(quando falo restaurar ou reconstruir, estou me referindo somente a infraestrutura. Não a instituições de direito. Uma simplificação de escopo para facilitar)

Perguntas:
1) O que seria muito importante reconstruir nesse novo mundo e o que poderia ser dispensado?

2) Como estruturar esse guia prático para conter todo o conhecimento necessário e da forma mais adequada para o fim que ele foi criado?

3) Qual o tempo mínimo para que consigam cumprir o objetivo?

Responder à primeira pergunta seria criar um análogo da cesta básica que seria composta por produtos e serviços como a internet e o celular.

Junto com a resposta à segunda pergunta, teríamos a base para realmente começar o projeto S00W+. Esse projeto teria a missão de escrever o guia e formular um jeito de estimar o tempo necessário para montar toda a infraestrutura especificada na cesta Zero.

Ilustrando um pouco melhor.
Um celular. Tem câmera digital, tem uma bateria, se liga a antenas, de onde saem cabos de fibra ótica, moduladores, raio laser, energia elétrica, circuitos integrados, .....

Só pra conseguir construir um aparelho de celular de última geração (que inclui tela touchscreen e acelerômetro como o iPhone), e ter toda a infraestrutura em volta para ele fazer ligações já envolve muita mas MUITA tecnologia.

E o problema é que pra fazer, por exemplo, um circuito integrado, precisa de uma sala limpa (nível de partículas reduzidíssimo e controlado 24h), de microscópios, produtos químicos especiais para corroer lá o waffle de silício.

Quantas elos teria nessa corrente até chegar na forma de obtenção das matérias-primas e fonte de energia para fabricar as ferramentas mais primitivas?

No livro "A ilha misteriosa", de Júlio Verne, é descrito como Cyrus Smith, um dos personagens principais, consegue produzir fogo, constuir um forno improvisado, fabricar aço, nitroglicerina e até um telégrafo! perdido numa ilha deserta.

Se acontecer alguma coisa ruim com o mundo, tipo... extinção em massa da humanidade ou sei lá, se um dia num plano de colonização de algum planeta distante semelhante à Terra o foguete se despedaçar ao entrar em órbita e seus tripulantes sobreviverem, ter um planejamento detalhado de o que fazer, como e em qual ordem para desenvolver todas as ferramentas necessárias para ter de volta todo o conforto e capacidades de comunicação, interação e produção intelectual num tempo mínimo não seria nada mal.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Manifestação Coletiva [parte 2]


Visualizemos... Temos um grupo de pessoas e uma parcela delas está descontente com algo (todos os descontentes com o mesmo algo). Chamaremos a parte descontente do grupo de manifestantes e o grupo completo de coletividade.

Como os manifestantes se identificam e se articulam para conseguir o que querem? Eles sabem que individualmente eles não têm poder ou voz, mas se todos agirem coordenadamente eles podem conseguir mudar o algo que os incomoda.

De alguma forma então, os manifestantes, antes de saberem que o são, formam uma rede se comunicam e expressam uma voz única; quando enfim são vistos como os manifestantes. Vamos tentar modelar o fenômeno como um efeito dominó (em cadeia) reforçado pelo groupthink. Para a metáfora dar certo então temos que explicar qual a característica do grupo "desencadeável" e como acontece o peteleco inicial.

Apelemos para outra metáfora que pode ajudar-nos. Imagine uma folha de papel sobre uma mesa. Na beirada dela. Ela só está sobre a mesa porque metade do peso ainda está apoiado, mas assim que a parte não apoiada for mais pesada, a folha rapidamente desliza por completo e cai. Essa idéia sugere uma massa crítica a partir da qual o fenômeno se desencadeia; é necessário um calor inicial para começar a combustão. Antes disso, não há fenômeno algum.

A manifestação coletiva pode ser dividida em duas fases: uma inicial caracterizada por uma liderança que incita ativamente as pessoas sobre quem possui influência a aderir ao moviemento (uma força que puxa a folha para a borda da mesa); e a segunda caracterizada pelo oposto, uma adesão espontânea em massa de pessoas que o fazem só para não ter que pensar ou explicar sua opinião contrária (uma espécie de maria-vai-com-as-outras, ou groupthink no jargão).

Para exemplificar, imagine um abaixo-assinado. Alguém cria a carta reinvidicação e a assina. Passa para pessoas de sua confiança que apoiam a causa e com uma certa insistência conseguem um número razoável de adesões. Num número crítico, quando as pessoas vêem que todo mundo está assinando, elas farão o mesmo, só para fazer parte da coletividade, que nesse instante é representada pelos manifestantes. Do contrário, alguém perceberá o comportamento diferente e ela terá que explicar sua opinião.

Recapitulando desde a idéia da primeira parte, a conclusão a que chegamos é que, como um virus, a manifestação se espalha e contamina a coletividade e suas regras de conduta e comportamento passam a viger automaticamente.

Quem quiser saber mais, procure por "group dynamics" e depois me ensine porque eu não estudei nada pra escrever isso, queria saber o que tem na literatura sobre o assunto. A primeira parte ficou com cara também de direito e a segunda de política.

.... Até que se prove o contrário.

Políticas deste canal

1) Só eu escrevo os posts, qualquer um comenta.

2) Este blog não está vinculado a nenhuma organização, marca ou ideologia.

3) Pessoas podem influenciar diretamente no conteúdo que eu decido escrever e na frequência com que eu publico.

4) Eu não vou fazer qualquer esforço de divulgação.

5) Qualquer pessoa é livre para divulgar, copiar, traduzir, elogiar, esculhambar, me avisando ou não qualquer parte ou totalidade do conteúdo que surgir aqui (incluindo comentários de terceiros).

6) Confirmo a autoria de todos os posts mas não atesto a originalidade dos mesmos nem mesmo a minha crença no que escrevo e nem tampouco tenho compromisso com a verdade.

7) Por motivos diversos e não planejados, o que for produzido aqui pode ser útil para alguém, como conhecimento, inspiração técnica ou artística. Se isso acontecer não tenho nenhum mérito ou responsabilidade.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Como receber feeds RSS por email


Nada mais simples

Acesse http://www.feedmyinbox.com/, coloque seu email e o endereço do feed que você quer receber. E pronto. Mega simples, gratuito e eu li os termos e privacidade deles, eles são legais.

Ah, pra este blog o endereço do atom feed é http://idiomasecreto.blogspot.com/feeds/posts/default

(pra quem não sabe, Atom é um formato de arquivo de Syndication que substituiu o RSS2.0, pra meros mortais dá no mesmo, só muda o que tem por trás da cortina)

Manifestação coletiva [parte1]

                Na sociedade atual, que muda e cresce o tempo todo, ser um indivíduo dentro de bilhões de seres semelhantes é realmente difícil. Tudo bem que ninguém tem contato com todos esses 6,67 bilhões[1] , mas quanto maior o centro urbano maior o número de pessoas diferentes que nós encontramos todo dia. E com a internet, nem há mais a limitação física.

                "Mas qual o problema, qual a dificuldade que emerge disso?" O problema é a prevalência da coletividade sobre a individualidade. Ter idéias próprias, escolher, falar e ser ouvido enquanto eu e não nós exige não só muito esforço como também perspicácia para saber se posicionar sem provocar reações adversas na coletividade.

                Saindo da abstração, no cotidiano, andando na rua, pegando ônibus, dirigindo, trabalhando, fazendo compras, solicitando serviços[2], etc, existem inúmeras regras invisíveis, a maiora das quais nunca são ensinadas, mas todos as apreendem e as seguem sem nem perceber. Aqueles que não o fazem, são logo taxados de loucos, inaptos a conviver em sociedade ou são retirados da mesma (prisão) quando a regra infringida fora codificada na forma de lei e é fiscalizada.

                É bom ter essas regras, é graças a elas que milhões de pessoas conseguem conviver numa megalópole, cumprindo suas obrigações e saciando suas carências de forma relativamente satisfatória sem a necessidade de conhecer ou entender cada um dos indivíduos com quem compõem esse imenso sistema social.

                Mas, por vezes por exemplo se o sistema mudar de dinâmica e algumas regras se tornarem obsoletas, essas regras que surgem naturalmente ou são instauradas por uma autoridade com essa competência não são suficientes ou o efeito que deveria provocar não se verifica mais.

É aqui que começa o assunto que eu quero tratar, do desequilíbrio do sistema social, surgem as manifestações coletivas, movimentos anômalos, independentes dentro do próprio sistema que buscam alterar o todo para satisfazer as suas necessidades lacunas.

Ao invés de fazer uma revisão histórica das formas, gêneros e espécies das manifestações coletivas e daí tirar algum pensamento conclusivo vou tomar outra abordagem. Qualquer grupo de pessoas que, por qualquer que seja o motivo, são obrigados a compartilhar um ambiente serve como modelo para se estudar o fenômeno.

Que tal um escritório de porte médio? Com pessoas trabalhando em afazeres diversos, e que convivem, cumprindo um expediente, normas de conduta, de vestimenta, e dispondo de canais de comunicação e uma certa liberdade para pensar, agir e falar além do exigido pelo ofício de cada indivíduo.

Nesta escala, ainda existe bastante espaço para individualidade, e algumas coisas são realmente diferentes do que acontece numa cidade ou país. Contudo, as pessoas já estão tão acostumadas a não terem individualidade que mesmo em pequenos grupos muitos procuram simplesmente se encaixar na coletividade. O mais interessante sobre esse assunto é pensar que qualquer movimento social de menor ou maior magnitude começa no indivíduo, o incêncido na floresta começa com uma minúscula centelha. Ao reduzir a escala, fica mais fácil investigar a origem desse tipo de fenômeno.

...[Fim da parte 1, breve continuação]